sexta-feira, 11 de março de 2011

SIMPLES PARA SER FUNCIONAL OU FUNCIONAL PARA SER SIMPLES?

A teoria da forma e, sobretudo, uma das suas característica mais estudadas, pregnância, é uma velha conhecida do design. A idéia básica, ao que dizem os estudiosos, partiu dos filósofos Imanuel Kant, Wolfgang von Goethe e Ernst Mach, que em comum tinham a noção de que a percepção era um acto unitário. Com isto, eles queriam dizer que as pessoas não percebem as coisas aos pedaços; elas, melhor, o seu cérebro, organizam as informações de forma a dar um sentido ao conjunto. No início do século XX, psicólogos, curiosamente também eles alemães, reflectiram sobre esta idéia e criaram a denominada psicologia da Gestalt. Este termo alemão significa algo mais do que apenas a tradução da palavra, ou seja: "a integração das partes em oposição à soma do todo". Simplificando: se num grupo cada uma das pessoas ler apenas um verso de um poema terá uma experiência diferente da que retira da leitura do poema completo. Não é verdade?
Este intróito serve para tentarmos perceber o que esta teoria vinda da Psicologia trouxe à arte e ao design. E trouxe muito. Primeiro porque se fundamentou algo que a experiência já verificava, ou seja, que algumas formas agradam mais do que outras à generalidade das pessoas. Assim sendo, e partindo deste pressuposto elaboraram-se leis que, de alguma forma, regem a percepção visual e servem como guias de conduta a quem trabalha com comunicação visual. Essas leis são a unidade, a segregação, a unificação, o fechamento, a continuidade, a proximidade, a semelhança e, claro, a pregnância da forma. (do alemão Prägnanz) é a capacidade de perceber e reconhecer formas. Se a forma é complicada, e se ainda por cima estiver no meio de uma composição cheia de elementos gráficos e imagens, vai ser muito difícil apreendê-la e identificá-la. Será, então, uma forma com baixa pregnância.
Porém, se a forma for simples,se não tiver que disputar a atenção com outros elementos, teremos um a obra com alta pregnância. Dá para perceber que a pregnância tanto se pode referir à forma como ao contexto em que ela está inserida. Dito isto, ficamos com a ideia de que quanto mais simples melhor. Aliás, uma das máximas do Design é esta: "menos é mais". Contudo, como tudo na vida, as coisas não são tão lineares como esta frase parece indicar. Um estudioso destas questões, Jorge Frescara, na obra "Diseño gráfico y comunicación" (2000), defende um ponto de vista que é o oposto do referido.
Para contextualizar o pensamento deste autor, é bom recordarmos que o mundo da comunicação visual na actualidade constitui um verdadeiro oceano de informações. Os profissionais da comunicação visual são os que melhor estão preparados para separar o importante do acessório, ou seja, de retirar o ruído e criar objectos que transmitam a mensagem de forma limpa e directa. Limpar e organizar foram pois palavras de ordem de alguns movimentos artistícos como o construtivismo, o De Stijl e a Escola de Bauhans, apostados em retirar o excesso de ornamento (de informação) que popularizou muitos dos trabalhos gráficos do ínicio do século XX.
Precisamos, pois, de coerência, economia e simplicidade, afirmavam estes artistas, para atingirmos obras funcionais e belas. E é aqui que entra a teoria de Frescara, quando afirma, justamente, que a simplicidade está mais relacionada com a beleza do que propriamente com a funcionalidade. E vai mais longe, afirma que os designers, neste processo de simplificação, acabam por se enganar, visto que procuram obter a simplicidade em vez de encontrá-la como resultado da busca pela funcionalidade. Ou seja, "simplicidade" passou a ser o requisito de um projecto, em detrimento da funcionalidade. Assim, segundo este autor, "Simplicidade" passa a ser um estilo e já não apenas um critério.
Fica aqui o ponto de vista deste autor que, de alguma forma, nos obriga a reflectir sobre verdades tão consensais que não se questionam há muito tempo. Vale a pena dar uma vista de olhos pela obra de
FRASCARA, JORGE

DISEÑO GRAFICO Y COMUNICACION

Ano de Edição:2000

 BUENOS AIRES

 

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