terça-feira, 29 de março de 2011

TIPOGRAFIA II

 
Tipografia - a arte da composição
A palavra tipografia tem origem no idioma grego que significa "typos’, em português denominado "forma" e "graphein" traduzido como "escrita"), sendo definida como a arte e o processo de criação na composição de um texto, física ou digitalmente. Assim como no design gráfico em geral, o objetivo principal da tipografia é dar ordem estrutural e forma à comunicação impressa.

Na maioria dos casos, uma composição tipográfica deve ser especialmente legível e visualmente envolvente, sem desconsiderar o contexto em que é lido e os objetivos da sua publicação. Em trabalhos de design gráfico experimental (ou de vanguarda) os objetivos formais extrapolam a funcionalidade do texto, portanto questões como legibilidade, nesses casos podem não ser consideradas de grande relevância.

A arte tipográfica incorporou valores estéticos no decorrer dos séculos. Obviamente, o patrimônio cultural da humanidade preservado por meio da escrita não está restrito ao aparecimento da tipografia e nesse sentido recua a alguns milênios, quando pensamentos e factos começaram a ser registrados por meio de ideogramas e signos fonéticos. Esses registros foram feitos com os mais variados instrumentos e sobre diferentes suportes. Os desenhos das letras produzidos por culturas e povos distintos continuam a ser estudados, recriados e reaproveitados como matéria-prima para o design tipográfico.

Outro factor a ser destacado tem a ver com os projetos de novas fontes tipográficas, que apontam, fundamentalmente, em duas direções: para o passado, com o resgate ou releitura de antigas formas, e para o presente / futuro, onde experiências visam a ruptura, um percurso ligado, obviamente, ao fácil acesso à tecnologia, que nos abre inúmeras possibilidades, impensáveis sem o uso de tais ferramentas.

Ao direcionar o objectivo da comunicação escrita para a transmissão fluente de idéias, o texto deve observar padrões de legibilidade adequados ao olho humano. A esses parâmetros de linearidade e conforto de leitura, culturalmente estabelecidos durante séculos, contrapõem-se experiências mais ou menos radicais nos campos editorial e publicitário e nos domínios do web design. Deste forma a leitura pode ser dividida em dois momentos: primeiro ocorre a identificação visual da mensagem, com toda a sua idiossincrasia gráfica. Logo após, se houver empatia por parte do leitor, este percorrerá o texto, independentemente dos excessos e ruídos na comunicação.

Desde o início desta arte, a tipografia estabeleceu relações que, além dos aspectos estéticos e econômicos, valorizaram, fundamentalmente, as questões técnicas. Por exemplo, no século XVIII o design tipográfico impulsionou a evolução da técnica de impressão. Os responsáveis pelo desenvolvimento dos tipos procuravam a melhor reprodução do seu trabalho e os tipos com grande contraste entre as hastes dos caracteres, com traços muito finos, só puderam ser utilizados com o aprimoramento dos sistemas de impressão e da produção de papéis e tintas adequados. Não é por acaso que a profissão de tipógrafo, no século XIX, fosse das mais consideradas. O tipógrafo era o operário que ascendia à classe culta e socialmente valorizada dos jornalistas e intelectuais.
Em certas épocas ocorreram mudanças significativas, tais como o surgimento de novas técnicas, novas tecnologias, com sistemas de produção e reprodução mais ou menos revolucionários.
Mas voltemos um pouco atrás. A origem dos alfabetos actuais (sistemas de signos abstractos que representam a articulação de sons) remonta à antiguidade, com o uso de signos e símbolos para representar elementos naturais e actividades quotidianas.
O primeiro pictograma (desenho representando um objecto ou uma idéia sem que a fonetização de tal objecto ou idéia seja tida em conta) de que temos conhecimento remonta ao ano 3.500 a.C., uma peça encontrada na cidade de Kish (Babilônia). Mais tarde, os sumérios desenvolveram ideogramas (símbolos com ideias associadas menos concretas), sistema que foi se desenvolvendo até dar lugar ao sistema cuneiforme sumério de escritura, baseado em sílabas que imitavam a linguagem falada. Um exemplo desta escritura é uma tábua encontrada em Ur, que descreve uma entrega de cevada e comida a um templo.


A evolução posterior deste sistema silábico deu lugar à escritura cuneiforme (2.800 a.C.), que utiliza o que podemos considerar como o primeiro alfabeto, cujas letras se imprimiam sobre argila usando uma alavanca. Desta época datam uma infinidade de tábuas que contêm textos econômicos, religiosos, poéticos, e legais, como o famoso código de Hammurabi, um dos documentos jurídicos mais antigos do mundo.
Por volta de 1.500 a.C. desenvolveram-se no Egipto três alfabetos (hieroglífico, hierático e demótico). Deles, o mais antiga era o hieroglífico (um misto de ideográfico e consonântico), baseado em 24 símbolos consoantes.
Os fenícios, povo de viajantes e comerciantes, adoptaram este alfabeto egípcio mil anos antes de Cristo, usando para escrever peles e tábuas enceradas, e também o transmitiram pelo mundo civilizado, de tal forma que pouco depois foi adoptado também pelos hebreus e os arameos, sofrendo com o tempo uma evolução própria em cada uma destas culturas. Adoptado também por etruscos e gregos, o alfabeto fenício acaba por passar destes aos romanos que no século, I já possuíam um alfabeto idêntico ao actual.
E foi o Império Romano decisivo no desenvolvimento do alfabeto ocidental, por criar um alfabeto formal realmente avançado, e por lhe dar a adequada difusão. A escrita é, como se sabe um instrumento de domínio e ninguém como os romanos o souberam usar. Toda a Europa romanizada adopta o alfabeto romano ou latino.
A escritura romana adopta três estilos fundamentais: Quadrata (maiúsculas quadradas romanas, originalmente cinzeladas em pedra), Rústica (versões menos formais e mais rápidas na execução) e Cursiva (modalidades de inclinação das maiúsculas).
Tendp como ponto de partida o modelo fenício, desenvolveu-se também, por volta do século IV d. C, o alfabeto árabe, formado por 28 consoantes e no qual, à semelhança dos alfabetos semíticos, se escreve sem vogais, da direita à esquerda.
No ocidente, o alfabeto romano foi evoluindo e, no século X, no mosteiro de St. Gall, na Suíça, nasce um novo tipo de letra comprimida e angulosa, a letra gótica, mais rápida de escrever e que aproveitava melhor o papel, factores importantes numa época em que a procura de manuscritos (em pergaminho ou em papel, a partir do ano 1100) crescia notavelmente.
A letra gótica espalhou-se por toda Europa, surgindo diferentes variantes (Textura, Littera Moderna, Littera Antiqua, Minúscula de Niccoli,, etc.).
Em 1450 produziu-se um dos factos mais importantes para o desenvolvimento da Tipografia e da cultura humana: Johann Gutenberg (1398 – 1468) inventa, simultaneamente, os caracteres móveis e a impressora. O primeiro texto ocidental impresso, a "Bíblia de 42 linhas" de Mazarino, surge em1456, da imprensa de Gutenberg.

O trabalho de impressão possibilitou o uso de novos tipos de letra. Em 1470 Nicolas Jenson grava o primeiro tipo em estilo romano, inspirando-se nas Quadratas romanas, em 1495 Francesco Griffo desenha o tipo conhecido como Bembo, em 1501 Francesco de Bolonia desenha para Aldo Manucio o primeiro tipo mecânico cursivo e em 1545 o impressor francês Claude Garamond cria uma fundição e começa a fundir um tipo mais informal que a letra romana trajana, baseado no traço da pena de ave. Desde então, uma infinidade de tipógrafos colaboram na criação de novas fontes, com destaque para Alberto Durero, Giambattista Bodoni, Fournier, Didot, Caslon, Baskerville, Bodoni e, já no século XX, Max Meidinger (criador da fonte Helvetica em 1957), Cooperplate e Novarese.
IMPRESSÃO
A Composição Manual: é o mais antigo sistema de composição tipográfica e foi o único até o final do século XIX. Está em uso até hoje, em pequenas gráficas, por todo o mundo. Na sua essência, é o mesmo que foi utilizado por Gutenberg na produção da Bíblia de 42 linhas, em 1455. Os tipos de metal, com caracteres em alto relevo e invertidos, isto é, ilegíveis, são organizados individualmente formando linhas de palavras. Depois de utilizados na impressão, os tipos são devolvidos a uma gaveta, reordenados para uso posterior.
Cada tipo é fundido a partir de uma matriz, com a imagem do caractere em baixo relevo. Essa matriz é formada a partir de outra matriz em alto relevo, chamada punção, esculpida manualmente.
A principal contribuição de Gutenberg foi a invenção do molde ajustável, possibilitando que a matriz com o desenho de uma letra fosse reproduzido milhares de vezes. Para isso, precisou de vários anos para aperfeiçoar um refinado sistema, que viria a fundir os seus tipos móveis.
Essa técnica difundiu-se pela Europa e eram os próprios impressores que produziam as suas matrizes e fundiam os tipos. No final do século XV a técnica tipográfica já estava caracterizada como um ofício.
Os tipos de metal são feitos a partir de matrizes específicas para cada corpo, com variações de desenho para diferentes tamanhos.
O Inglês John Baskerville (1706 – 1775) mudou o rumo da tipografia quebrando as regras e a tradição do sistema de impressão de sua época. Descontente com o resultado obtido na impressão de seus tipos, mudou o design das máquinas impressoras e produziu papel e tintas especialmente para garantir a qualidade na reprodução de textos. As suas idéias revolucionárias não foram muito bem vistas e o reconhecimento só veio após sua morte.

Composição a quente: em 1884, Otmar Mergenthaler produziu o primeiro sistema mecânico de composição e fundição de tipos, conhecido como Linotipo.
Esse equipamento era formado por um teclado, com as matrizes do tipo a ser utilizado e trazia uma fundidora ligada a esse sistema de digitação. Quando o operador pressionava uma tecla, a matriz do caractere correspondente era libertada, sucessivamente, até formar uma linha, na medida estipulada previamente. Essa linha era transportada mecanicamente para a fundidora, que fundia uma linha de cada vez.

Composição a frio: o primeiro equipamento a usar o processo fotográfico apareceu no mercado em 1947, mais foi na década de 60 que a composição a frio atingiu o seu máximo desenvolvimento. Em boa parte isso foi possível graças à evolução da impressão offset, que permitia reproduções com melhor definições e, consequentimente, maior qualidade final. Os sistemas de fotocomposição eram incrivelmente mais rápidos, comparados aos sistemas mecânicos. As matrizes traziam os caracteres em negativo, que eram projetados em suportes sensíveis à luz e processados fotograficamente.

Sistema Digital: aqui, os tipos deixaram de ser, definitivamente, objetos com propriedades físicas; passaram a ser seqüências digitalizadas em código binário, vistas num computador, ou descrições de curvas vectoriais interpretadas por uma impressora.
Conclui-se que o progresso cultural da humanidade ocorre em ciclos, com mudanças nos eixos de poder e de conhecimento. Como se percebe, a história da tipografia reflete os movimentos de mudança (as revoluções) e, como outras artes e actividades, esteve quase sempre condicionada a factores de mercado. Os copistas da Idade Média pertenciam ao clero, e a produção de livros manuscritos era determinada pelos seus membros. Com a ascensão da burguesia, novos valores se levantam e o interesse pela informação fez aparecer um crescente mercado produtor e consumidor. Até hoje.

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